No contexto pós-pandemia, a busca por conteúdos de qualidade fez crescer a abrangência dos veículos de comunicação nos meios digitais

 

Nossos hábitos de consumo estão se digitalizando cada vez mais. Por conta disso, não surpreende que o acesso a conteúdos informativos online tenha aumentado de forma significativa, no mundo inteiro, com a pandemia e o isolamento social. De acordo com pesquisa da DoubleVerify, a média global de aproximadamente 3 horas passadas acessando canais de informação e entretenimento subiu para quase 7 horas por dia, nos últimos dois anos.

Nessa mesma linha, um relatório da Nielsen verificou que o tempo gasto em dispositivos móveis, acessando notícias, tem aumentado 215% a cada ano. Conforme apontou o estudo, usuários de todas as idades já se adaptaram às tecnologias digitais como principal meio para acessar suas informações diariamente. Essa mudança de comportamento, com uma crescente demanda por conveniência, tem provocado um verdadeiro boom das plataformas online de veículos de comunicação.

No Brasil, marcas como Estadão e Folha de S. Paulo viram seus números crescerem de forma exponencial no que diz respeito à audiência digital. De fevereiro a março deste ano, por exemplo, o Estadão teve um aumento de mais de 50% nos usuários de suas plataformas digitais, conforme registros do Google Analytics. Além disso, segundo a empresa, entre 2015 e 2019, o número de assinaturas digitais do jornal já havia crescido 206%.

Embora o volume de vendas dos principais jornais do Brasil, em sua versão impressa, tenha se reduzido de forma considerável nos últimos anos, principalmente desde o advento das mídias digitais, ainda há uma grande procura por conteúdos bem apurados e que transmitam credibilidade, já que a internet abarca uma profusão cada vez maior de fake news.

Segundo dados do Instituto Verificador de Comunicação (IVC), o avanço das mídias digitais pode ser percebido através da média de circulação de jornais no meio digital: em 2019, a Folha contava com um total de 236 mil assinaturas digitais, que subiu para mais de 266 mil em 2020; já o Globo passou de 217 mil para quase 245 mil; e o Estadão foi de mais de 141 mil para perto de 152 mil assinantes.

Outro fator que possivelmente impactou esses números foram as transformações digitais realizadas pelos próprios veículos, que vêm trabalhando para aprimorar seus processos de veiculação das notícias online, com plataformas cada vez mais atraentes para os usuários, que permitem uma navegação fácil e rápida, além do uso conjugado de diferentes ferramentas e linguagens para engajar um grande número de leitores. Exemplo disso é o jornal O Estado de S. Paulo, que divulgou um investimento de aproximadamente R$ 60 milhões em seu projeto digital, o Estadão21, apostando no mercado publicitário e na ampliação de assinaturas digitais, além de mudanças na redação e contratação de uma consultoria espanhola.

Já a Folha de S. Paulo implantou um sistema pioneiro para acesso aos conteúdos digitais, o Paywall, que permite duas modalidades: hard (bloqueio total para não assinantes) e soft (em que o leitor pode acessar um número limitado de notícias do site). O novo sistema passou a gerar leads mais qualificados para o jornal e também ajudou a alavancar o número de assinaturas.

Essas atualizações e reformatações dos sites de grandes conglomerados midiáticos não têm acontecido apenas no Brasil. Uma pesquisa recente do Instituto Reuters para o Estudo do Jornalismo, com profissionais de 43 diferentes países, indicou que mais de 75% dos principais veículos de comunicação foram forçados a repensar suas estratégias online, pós-Covid 19, acelerando seus planos de transição digital. Nesse contexto de incerteza e, muitas vezes, de enorme desinformação, a tendência dos usuários é de se voltarem aos veículos de comunicação mais consolidado, ainda que de forma online. O desafio, para as empresas jornalísticas, tem sido adaptar seu conteúdo ao universo digital, mantendo a qualidade, a transparência e, sobretudo, a imparcialidade.

Esse mesmo estudo indica que a principal preocupação dos líderes em comunicação digital, atualmente, é a criação de uma cultura inovadora, com foco em análise de dados e de público, em equipes multidisciplinares e no aprendizado por meio do estudo das publicações de outros veículos midiáticos. Algumas empresas também estão apostando na inteligência artificial, não apenas para melhorar a eficiência na apuração e na produção de notícias, mas para entregar aos seus leitores uma experiência mais personalizada de acesso à informação. Mais de 69% dos entrevistados pelo Instituto Reuters acreditam que essas tecnologias serão responsáveis pelos maiores impactos no jornalismo, nos próximos 5 anos.

Essa busca dos consumidores por veículos de comunicação confiáveis no meio digital afeta também a publicidade online. O estudo da DoubleVerify verificou que o comportamento dos usuários é fortemente influenciado pelo contexto em que se encontra a informação, já que 55% dos entrevistados afirmaram que não comprariam ou estariam menos propensos a adquirir produtos ou serviços anunciados junto a notícias falsas ou sensacionalistas.

Isso quer dizer que, no contexto pós-pandêmico, frequentemente chamado de “novo normal”, a adequação das marcas é fundamental. Cabe às empresas e a seus departamentos de marketing alinharem sua busca por performance às demandas por conteúdo de qualidade e preocupações com a privacidade do usuário. No ambiente digital, os aspectos mais buscados nos veículos de comunicação são segurança, confiabilidade e pluralidade na transmissão e na análise das informações. A sobrevivência do jornalismo online dependerá, em grande parte, da capacidade dos veículos de se manterem relevantes em uma realidade que segue evoluindo.